Criador do protocolo World Wide Web, o pesquisador britânico Tim Berners-Lee não acredita que a nova forma de usar internet será baseada em blockchain e defende que o termo Web3 não serve para designar a terceira geração da web
Se a WEB3 e suas ramificações, como o metaverso, atraem cada vez mais o interesse do mercado, uma figura que foi essencial para a criação da internet está pedindo para que as pessoas não coloquem tanta expectativa nessa nova onda. A cautela é do pesquisador britânico Tim Berners-Lee, criador do protocolo World Wide Web.
Antes de entrar nessa discussão, é preciso entender a definição da Web3. O termo foi criado pelo jornalista americano John Markoff e serve para descrever a terceira geração da rede de computadores. Mas não se trata propriamente de uma evolução na tecnologia, e sim, da forma como a internet é utilizada.
“É importante esclarecer para discutir os impactos das novas tecnologias”, disse Berners-Lee, em sua participação no Web Summit, evento que está sendo realizado nesta semana, em Lisboa. “Você tem que entender o que os termos que estamos discutindo realmente significam, além dos chavões.
A primeira geração da internet tinha como base o compartilhamento de informações e o consumo de conteúdo. A segunda geração, também chamada de Web 2.0, tomou forma quando os próprios usuários assumiram o papel de criadores de conteúdo, a partir do surgimento de redes sociais e plataformas como o YouTube.
Descrita como uma nova forma de interagir online e baseada em sistemas de blockchain, a Web3 intensifica essa troca de informações a partir do uso em larga escala de tecnologias como inteligência artificial, realidade virtual e big data. Um dos exemplos são os ambientes digitais criados dentro do metaverso.
O problema é que, de acordo com Berners-Lee, não se pode dizer exatamente que a Web3 é a terceira geração da web. “É uma pena que o nome Web3 tenha sido usado pelo pessoal da Ethereum para as coisas que eles estão fazendo com blockchain”, afirmou. “A Web3 não é a web.”
Berners-Lee defende seu argumento ao justificar que o blockchain, apesar de ser útil, não pode ser visto como a engrenagem principal dessa nova rede. “Eles são muito lentos, caros e muito públicos”, afirmou. “Os armazenamentos de dados pessoais precisam ser rápidos, baratos e privados.”
O pesquisador comentou sobre o tema ao citar sua própria iniciativa para criar uma proposta de internet descentralizada. Chamado de Solid, o projeto foi anunciado ainda em 2016 e, mais recentemente, vem sendo tocado pela Inrupt, uma startup fundada por ele e que já levantou US$ 46,4 milhões com investidores como Forté Ventures, Octopus Ventures, Accenture Ventures e Akamai Technologies, entre outros.
Para tentar resolver o quebra-cabeça da descentralização sem recorrer ao blockchain, a Solid propõe algumas mudanças na forma de utilizar a internet. Entre elas, a adoção de um sistema de cadastro único, em que uma só conta seja utilizada para diferentes serviços.
Ainda que pareça um discurso enviesado, já que Berners-Lee tem interesse pessoal no futuro da Web, vale lembrar que figuras como Jack Dorsey e Elon Musk também já mostraram cautela com o assunto.
Musk, por exemplo, chegou a afirmar que o conceito de uma terceira geração da web “parece mais um termo de marketing do que algo real”.
Dorsey, por sua vez, disse no ano passado que a Web3, como é classificada atualmente, é controlada pela indústria de venture capital, responsável por financiar os projetos de tecnologia que envolvem o uso de blockchain.