Avell mira mercado gamer em 2024 após reestruturação

Ivo/Canaltech

 

Referência em notebooks gamer e profissionais há muito tempo, a Avell é uma das principais competidoras no mercado de laptops de alta performance no Brasil. Nesta conversa o CEO da Avell, Emerson Salomão, e o gerente de produtos e novos negócios, Hemerson Basseto, explicam o atual momento de reestruturação da companhia e quais são os próximos passos da marca brasileira em busca de reconquistar a atenção dos jogadores.

Fundada em 2004, a marca passa por um verdadeiro momento de transição para aumentar suas bases. Nos últimos anos, a companhia catarinense voltou sua atenção aos profissionais, mas agora busca apadrinhar novamente um público especial: os jogadores.

Emerson Salomão (esquerda) e Hemerson Basseto (direita) também conversaram com o Canaltech no evento Intel Gaming Garage, em outubro (Imagem: Divulgação/TheoGames)
Emerson Salomão (esquerda) e Hemerson Basseto (direita) 

Avell agora é “gente grande”

Sem poupar palavras, Salomão reforça que os últimos anos da Avell foram de reestruturação e, principalmente, profissionalização. Esse processo começou ainda durante a pandemia, quando outros grandes concorrentes precisaram se adaptar e diversas dificuldades tomaram conta do ambiente da empresa. No entanto, o período também abriu portas para oportunidades e acelerou sua transformação em uma marca mais forte no segmento.

Essa mudança englobou todos os campos dentro da Avell, como incorporações na fábrica em Manaus, o processo de qualidade, acompanhamento dos pedidos, novos sistemas e a troca de gestão de pessoas. O presidente executivo comenta que embora as alterações tenham sido radicais, nada mudou a “essência da Avell”.

“Nós saímos de uma empresa, digamos, pequena para algo maior. Em relação às multinacionais, a Avell é uma empresa pequena. Se você comparar com nossos concorrentes, são gigantescos, mas a gente consegue brigar legal com eles”, explica Emerson Salomão.

Embora o retrospecto de empresa pequena possa parecer latente para quem acompanha o mercado do lado de fora, a Avell obteve números altos nos últimos anos. Para se ter uma noção, o ano de 2021 terminou com uma receita alta de mais de R$ 200 milhões, atingindo um valor 90% maior do que o ano anterior.
(Imagem: Ivo Meneghel Jr/Canaltech)

No entanto, o carro-chefe da companhia ficou com os notebooks profissionais. Mais de 70% da receita obtida tanto em 2021 quanto em 2022 são da venda de máquinas voltadas para o trabalho, deixando 30% para máquinas gamer. O número não é surpresa, visto a introdução de linhas como a ION, HYB e HYB New nos últimos tempos, para áreas de engenharia, design, arquitetura, odontologia, etc.

Todavia, Emerson revela que a empresa também passou pelas “dores do crescimento”. A loja saiu de uma receita de R$ 50 milhões e subiu para R$ 200 milhões, mas desceu recentemente para cerca de R$ 150 milhões com as últimas mudanças.

O foco é o gamer

Nessa abordagem, a empresa busca se reconciliar com o público que ajudou a construir sua grandeza. De acordo com o CEO, a ideia é resgatar o passado ao realizar fortes investimentos nessa área. Na verdade, essa movimentação já vem sendo noticiada há alguns meses com a chegada da nova geração da linha Storm e Storm X.

Os modelos são um dos únicos do Brasil a contar com os modelos top de linha de GPUs Nvidia e CPUs Intel, como os GeForce RTX 4080 e RTX 4090 e a família de processadores Core i9.

A chegada de modelos como o Storm BS também agitou o estoque da companhia. O CEO diz que percebeu um movimento interessante conforme as vendas começaram a surgir. Grande parte do público investia no A52 ION, com características similares, para jogar e não trabalhar. O Storm BS chegou para preencher essa lacuna interna de um produto gamer de entrada, já que conta com processadores Core i5 e i7 de 12ª geração Intel e placas GeForce RTX 3050 e RTX 4050.

“Isso mostra como esse mercado gamer é relevante para gente e como as pessoas estavam comprando o A52 ION para jogar. Como temos o Storm BS hoje, vemos que elas estão comprando mais o BS, ou seja, o público quer um equipamento gamer de qualidade”, enfatiza o CEO.

Como já é de se esperar, os notebooks gamer de entrada correspondem a 95% das vendas na empresa. Isso engloba os modelos até as RTX 4060, no máximo. Porém, o segmento premium com as RTX 4090 e RTX 4080 tem menos de 5% de vendas e preços bem altos.

Linha Storm X figura entre os notebooks mais poderosos disponíveis no varejo brasileiro (Imagem: Reprodução/Avell)
Linha Storm X figura entre os notebooks mais poderosos disponíveis no varejo brasileiro (Imagem: Reprodução/Avell)

Emerson conta que ficou surpreso na estreia da linha Storm X. Os notebooks com a GeForce RTX 4090 esgotaram rapidamente e foi preciso encomendar novos aparelhos, enquanto a RTX 4080 acabou menos cobiçada pelo público entusiasta.

2024: o ano do “setup Avell”

Nessa retomada do público gamer, os periféricos vão desempenhar um papel importante. O planejamento da Avell envolve começar a oferecer mouses, teclados, headsets e mochilas dentro da loja a partir de março de 2024. A ideia é fazer um pacote completo para o jogador, para que ele saia do site da empresa já com acessórios prontos para jogar.

De início, esse é um projeto colaborativo. Assim, a Avell vai ofertar produtos já existentes no mercado, de marcas parceiras, como a Logitech. Segundo Hemerson Basseto, o plano é oferecer um setup Avell ao jogador. De início, o projeto deve focar mais em mouses e headsets, mas a partir de meados de 2024 outros acessórios já vão começar a aparecer na loja.

Meteor Lake a vista?

Com o lançamento dos processadores Meteor Lake cada vez mais próximo, a indústria de dispositivos portáteis anda antenada para esses produtos. Embora Basseto e Salomão não tenham confirmado a chegada de notebooks Avell com essas CPUs, a equipe conversa diretamente com a Intel e parece estar de olho em novidades.

O gerente de produtos da marca conta que sempre está atento em possibilidades de inserção para as linhas. Basseto acredita que a chegada dos Meteor Lake vai mudar muitos conceitos no mercado, seguindo um caminho que a indústria percorre há um bom tempo ao aliar mais performance bruta com baixo consumo energético.

Parcerias com Intel e NVIDIA são um dos pontos fortes na organização da Avell (Imagem: Ivo Meneghel Jr/Canaltech)

Ao ser questionado sobre uma janela de lançamento de notebooks Avell com os Meteor Lake, Hemerson Basseto comenta que pode ser um pouco cedo para pensar nisso. Por se tratar de um novo produto e o fato da Intel estar lançando outras linhas em paralelo, pode ser que um lançamento recente como esse não seja a melhor estratégia do ponto de vista financeiro.

“O que eu quero dizer com isso tudo? Não adianta a gente trazer ou desenvolver linhas muito avançadas. Nós temos que esperar para ver como o mercado vai absorver. Mas a nossa ideia é de ter um produto mais leve, com eficiência energética muito maior, capaz de demonstrar o poder dessa nova iGPU dos Meteor Lake […] Então a nossa ideia é trazer com a Intel esse produto ao mercado, talvez com gráficos Arc. […] Tudo isso precisa de algumas definições e não é nada definitivo, mas estamos conversando e há bastante desenvolvimento pela frente”, explica Basseto.

Parceria com a NVIDIA

Além da Intel, o CEO da Avel destaca a proximidade com a NVIDIA. Nos últimos 10 anos, as duas marcas colaboraram ativamente para a chegada de novos produtos ao Brasil. O destaque mais recente fica por conta das séries GeForce RTX 3000 e RTX 4000, em que a Avell foi uma das primeiras marcas a lançar produtos com esse tipo de tecnologia.

“O respeito que eles têm com a gente é muito legal, porque, por sermos uma marca nacional, poderia ter algum tipo de preconceito, mas não. A gente consegue mostrar isso [a posição no mercado] por sermos uma marca forte, de alto desempenho, e ter essa parceria com os lançamentos deles”, aponta Emerson Salomão

Responsabilidade ambiental e selo Reclame Aqui

Com tantas companhias do mundo hardware investindo em mais sustentabilidade, a Avell parece não querer ficar de fora desse panteão, que já engloba gigantes como a Acer. A companhia adotou a certificação ISO 0001, ou seja, um conjunto de diretrizes e normas de gestão ambiental em uma empresa.

Para o CEO, essas normas ajudam a prevenir o descarte irregular de componentes eletrônicos durante a fabricação em massa. Nesse sentido, a Avell consegue recuperar notebooks descartados e realizar uma assistência correta, muita das vezes circulando o produto no mercado novamente.

Por fim, o executivo abordou uma conquista da Avell ao receber o selo RA1000 do Reclame Aqui. A certificação requer que a loja tenha avaliações iguais ou superior a 50, índices de resposta e solução igual ou superior a 90%, dentro outros fatores.

Avaliação da Avell caiu um décimo nos últimos meses, mas se mantém sólida (Imagem: Captura de tela: Felipe Vidal)
Avaliação da Avell caiu um décimo nos últimos meses, mas se mantém sólida 

“Nós já tínhamos esse selo, mas como a empresa cresceu muito, conseguimos reconquistá-lo. E ele demonstra todo e cuidado e qualidade do produto, a questão de suporte, atendimento. Porque está tudo ali. Se você tem um produto ruim você não vai conseguir enganar as pessoas por muito tempo”, finaliza o CEO.